M A R A B Á
Para entendermos o Poema "MARABÁ" de Gonçalves Dias temos que mergulhar na história do Maranhão, especialmente na história dos descendentes de Franceses com índias de etnia tupi, provavelmente Tupinambás que vinham fugindo da colonização portuguesa. Os nativos maranhenses eram bilíngues falavam o tupi-geral e um pouco de portugues.
Os franceses eram apelidados de Mayra (maíra) e o indivíduo tupi era chamado de Awa, então Marabá é uma derivação de Mayra + Awa = Mayrawa, que através dos anos se transformou na palavra "Marabá". A "Marabá" do poema é uma mulher mestiça de pai francês e mãe índia; não servia pro branco, não servia pro índio e do mestiço de portugues era como que uma inimiga.
Quando os franceses foram expulsos do Maranhão ficaram aqui milhares de descendentes de homens franceses com as índias tupi, os Mayrawa que passaram a ser discriminados pelos portugueses e mestiços de portuques com índio, então os Mayrawa eram vistos como "Índios Impuros" com os traços do estrangeiro invasor. (há um caso análogo no Vietnam, em relação aos filhos dos soldados americanos com mulheres vietnamitas, que ficaram lá). Então, "Mayrawa" virou "Marabá" no aportuguesamento da fala dos brasileiros.
O poema de Gonçalves Dias é muito mais um "conto" de uma discriminação aos descendentes dos franceses com índios, que ficaram no Maranhão. E com o tempo os "Marabá" foram misturados aos demais e se perdeu a etnia, é como se ninguém quisesse ser mais "Marabá". Um Belo poema, mas uma história de discriminação....
(Pedro Paulo Barbosa)
Marabá
por Gonçalves Dias |
Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
— Tu és, me responde,
— Tu és Marabá!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
— Tu és, me responde,
— Tu és Marabá!
— Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar!
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"
— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
—
Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."
Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."
— Meu colo de leve se encurva engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,
— Como um soluçado suspiro de amor! —
"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."
— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."
————
E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:
Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!
Análise do Poema Marabá de Gonçalves Dias
No poema Marabá de Gonçalves Dias, é possível perceber a presença marcante do Romantismo. Essa presença é logo apresentada no tema geral do poema: "amor-melancolia; amor-desespero; amor-desilusão". É em torno do embate entre Marabá e os guerreiros que se dá esse amor desiludido. Outra característica se apresenta na construção das personagem Marabá (índia mestiça) em oposição a índia verdadeiramente brasileira. Ora, é sabedor que o índio constitui elemento singular em nossa literatura romântica. Seus traços brasileiros ganharam tanta conotação que embora Marabá seja, apesar de mestiça, bonita, ainda sim é rejeitada pois não se enquadra na descrição do indígena transplantado para a nossa literatura. Outros elementos também merecem um olhar diferenciado: linguagem poética carregada de metáforas que exaltam o elemento paisagístico (brisa, beija-flor), paralelismo, jogo de palavras, presença de duas vozes (Marabá e o guerreiro) intercalando as ações: ora Marabá ressalta a sua própria beleza, ora é o guerreiro que ressalta a beleza indígena por ele preferida. E nesse vai e vem de exposição do belo, Marabá se dá conta que a sua beleza é desprestigiada naquele meio social. Um exemplo de lirismo em que a figura do elemento indígena adquire a conotação de elemento principal do nosso período romântico. ( Rômulo José)
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