sexta-feira, 4 de março de 2016

Como Entender a Esquerda Brasileira (?!) por Rafael Rosset


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Antes de entrar numa discussão envolvendo política no Brasil, você precisa saber que as palavras aqui não significam o mesmo que em outras partes do mundo civilizado. Assim, rasgue seus manuais de filosofia política e acompanhe os ensinamentos do mestre João Santana:


1- "Esquerda", no Brasil, é o PT. Tudo que se alie ao PT ganha o direito de ser chamado de "progressista", como, por exemplo, o PMDB, o PP, Sarney, Collor, a Igreja Universal, o Ahmadinejad e as Farc. Não existe algo como “extrema esquerda”: a esquerda é SEMPRE moderada.


2- Por via reflexa, tudo o que se oponha ao PT é "direita", "extrema direita" e "ultra direita", incluindo o Partido Socialista do Brasil e o Partido Verde. Gente como Marina Silva, Fernando Gabeira, Ferreira Gullar e Luiza Erundina se tornam "conservadores", pra não dizer apóstatas mesmo, traidores da única e verdadeira fé (que é o petismo ortodoxo). Você só pode fazer oposição legítima ao PT se, antes de cada frase, anunciar que está fazendo oposição "à esquerda da presidenta", como faz o Jean Wyllys.


3- Usar o estado, através do BNDES, pra transferir 6% do PIB nacional para 700 grandes compadres escolhidos a dedo costumava ser chamado de "clientelismo" quando os militares faziam. Mas se a esquerda faz, é "nacional-desenvolvimentismo". E se você aponta que é tudo igual, então você é "reaça".


4- Fazer leis separando as pessoas em virtude da cor da pele costumava ser chamado de "racismo" quando Hitler e os sul africanos faziam, mas se a esquerda faz é "discriminação positiva". E se você critica, o racista é VOCÊ! (vide “reversal russa”).


5- Usar assistencialismo pra cooptar grandes porções do eleitorado costumava se chamar "voto de cabresto", quando os coronéis de norte a sul faziam. Mas se a esquerda faz é "justiça social". E se você discorda é porque você é "fascista".


6- Todo mundo que é de esquerda (ver item 1) é super favorável a liberdade de expressão e de comunicação (vide “tolerância”, adiante). Mas desde que seja pra elogiar o governo. Porque se falar mal, é "tentativa de golpe" (ver item 8), da "direita" (ver item 2) e do "PIG" (ver item 9).


7- “Tolerância” é um conceito que se aplica apenas a quem é de “esquerda” (vide item 1). Os guerreiros da justiça social abraçam o conceito de “tolerância repressiva” do Marcuse: se você não estiver no seu “local de fala” (na opinião revolucionária corrente), você será sumariamente censurado sem que se veja nisso qualquer ofensa ao princípio democrático. Em países em que a esquerda tenha conseguido obliterar qualquer oposição “censura” é sinônimo de “paredão”.


8- O próprio conceito de "golpe", no Brasil, é relativo. Apear um governo de esquerda, sem dúvida alguma, é "golpe". Inclusive se for democraticamente, via eleições ou impeachment, já que nesse caso o povo é "alienado" (quando o povo alienado elege um governo de "esquerda", ele instantaneamente adquire consciência política. Nem precisa ler ou estudar, basta digitar "13 confirma" que a pessoa, no mesmo instante, se torna politizada). Agora, derrubar um governo de direita, mesmo que seja pela guerrilha armada e pelo terrorismo, nunca é "golpe". Nesse caso, é "luta popular”. Ainda que o povo não tenha nem queira ter nada a ver com isso.


9- "Partido da imprensa golpista", também conhecido como "PIG", são os jornalões como a Folha que, apesar de publicarem as colunas de Guilherme Boulos, Vladimir Safatle, Antonio Prata, Juca Kfouri, Janio de Freitas, Gregório Duvivier, Carlos Heitor Cony, Mario Sergio Conti e Ricardo Melo (e do Xico Sá, antes de ele dar piti porque não pôde declarar voto a Dilma em seu comentário sobre a 29ª rodada do Brasileirão de 2014), são "reacionários, "fascistas" e "coxinhas", tudo junto e misturado. A Globo, apesar do “Esquenta” vender o funk como alta cultura, e apesar de colocar casal gay até na Malhação, é “conservadora” e de “direita”.


10- "Atentado terrorista" é sempre coisa da "direita raivosa". Quando um cara da "esquerda" explode bombas e mata inocentes, ele é "revolucionário" (também conhecido como "herói" - vide o verbete "Cesare Battisti").


11 - Chamar alguém pelo gentílico (por exemplo, “mineiro”, “cearense” ou “pernambucano”) é "preconceito de origem" e “xenofobia”. Mas chamar alguém de "elite branca paulista", não. E eu não sei explicar o porquê. Próximo tópico.


12 - "Privatizar", assim entendido como transferir para a iniciativa privada o controle de uma companhia estatal deficitária e cujas diretorias são utilizadas para a prática de prevaricação, lavagem de dinheiro e tráfico de influência, é um crime hediondo. Quem defende privatização é "coxinha". Quem aponta que a sociedade em geral ganha com as privatizações é “entreguista”. A não ser que o governo que privatiza seja de "esquerda". Aí é "concessão", que é uma coisa muito progressista feita em benefício do povo. Mas só a “esquerda” sabe como fazer “concessões”. Quando outro governo faz concessões, ele também é “entreguista”. E não vamos discutir mais isso, por favor.

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👉 Rafael Rosset, paulistano, 35 anos, advogado mas legal, tem um cachorro chamado Smirnoff que curte Iggy Pop e que sabe que rock nacional não é rock. Escreve toda a semana para a Socialista de iPhone.

🐧 Twitter: @rafarosset

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Sua ótica e análise são brilhantes!

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  3. Simples assim. Só faltou explicar que a luta armada era para defender a Democracia e as classes sociais que a esquerda cria: a da elite do Partido com contas na Suíça; a dos soldados do partido que ocupam cargos públicos em benefício próprio e os coxinhas, aqueles que trabalham e produzem a riqueza do Brasil.

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